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5 de agosto de 2008

A VERDADE DIVIDIDA

A VERDADE DIVIDIDA



A porta da verdade estava aberta

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade

porque meia pessoa que entrava

só conseguia o perfil de meia verdade.

E a segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meio perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia os seus fogos.

Era dividida em duas metades

diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade era mais bela.

Nenhuma das duas era perfeitamente bela.

E era preciso optar. Cada um optou

conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.



Carlos Drumond de ANDRADE, Contos Plausíveis. Rio de Janeiro, José Olympio, 1985. p.47.

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